quarta-feira, 20 de julho de 2011

Almoço de domingo...

     Normalmente tem choro de bebê e gritaria de crianças, tem a música alta falando de amores não correspondidos ou decepções em um relacionamento que um dia foi perfeito, tem o chiaço da cebola dourando no fogo, a mãe das crianças brigando com as mesmas, a cerveja sendo aberta e o gás vazando no gargalo da garrafa de refrigerante. A mesa vai ficando pequena conforme os namorados e filhos vão chegando, o assador frequentemente é o dono do CD que está tocando no carro de ré na garagem, e ele canta, fecha os olhos, segura a latinha e não faz questão de estar afinado. O filho caçula, discute com a nova namorada por ciúmes, e as irmãs junto com a mãe adoram a situação, já que ela é muito madame e não ajuda em nada. A filha mais velha reclama do marido, que não por coincidência é o assador, cantor e cachaceiro.
     O matriarca sentado na cabeceira, reclamando do excesso de sal na salada, a neta adolescente se queixando da falta da internet, área do celular e do que fazer, e suas primas mais velhas discutindo para decidir quem lava e quem seca a louça.
     O castelinho de latinhas vazias começam a tomar forma e a bebida já ta fazendo efeito, uma das crianças já se machucou, e a mãe do bebê implora por silêncio, já que milagrosamente ele dormiu, mas não é sequer ouvida. As irmãs já levaram bronca, enquanto sua mãe, junto com sua tia, comentam da namorada do ciumento, da vizinha que se separou e da prima distante que não arruma namorado.
     Na hora de almoçar sempre falta lugar, e alguém tem que comer no sofá, normalmente as netas adolescentes, e é um tal de pedir para passar isso e aquilo que no fim das contas ninguém come em paz, os que acabam primeiro incentivam as crianças a bater na mesa pedindo a sobremesa, que é o manjar de coco da avó.
     Os cunhados cachaceiros dormem, as mulheres montam a mesa de jogatina junto com o cafezinho e as crianças continuam jogando bola na garagem. O almoço já virou café da tarde. Até os homens acordarem, acabarem com o jogo das mulheres, requentarem a carne enquanto elas requentam o arroz e fazem mais maionese. O café da tarde virou jantar. E começa tudo de novo, inclusive o castelinho de latinha...
     Almoço em família é assim, todos se amam muito, mas domingo sempre tem confusão e briga perto das sete normalmente, talvez pela proximidade da segunda-feira ou pela convivência de anos, sendo todo fim de semana a mesma coisa. Mas são confusões e brigas gostosas de se participar e todo mundo acaba rindo, indo pra casa cheio de comer o dia inteiro, para começar mais um semana esperando o fim de semana que vem pra ter a folia de domingo de novo.

Bruna Caetano